quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ônibus param em protesto contra a insegurança
 

 

Preocupados com a onda de assaltos aos ônibus em Natal, os rodoviários pararam o sistema de transporte coletivo em dois horários diferentes. Até ontem, já foram registrados 30 assaltos a ônibus em Natal este ano. A manifestação da manhã de ontem começou as 9 horas e terminou às 11 horas, com a interdição de ruas como como avenida Rio Branco, Largo do Dom Bosto, na Ribeira; Avenida Mor Gouveia, Ponte Newton Navarro e avenida Salgado Filho, nas proximidades do cruzamento do shopping Midway Mall.

À tarde, foram mais duas horas de protesto, das 16 às 18 horas, na avenida Bernardo Vieira; rua Mário Negócio, nas Quintas; na descida do Baldo, em frente a sede do Sintro, e de novo na Capitão Mor Gouveia e Largo Dom Bosco.

Até ontem (24), o Sindicato dos Transportes Urbanos do Rio Grande do Norte (Seturn) já havia contabilizado a ocorrência de 30 assaltos nos ônibus que circulam em Natal, sendo 21 destes confirmados pela Polícia Militar.

Os rodoviários externaram a preocupação com a alta incidência de assaltos. "Natal nunca teve um índice tão alto de assaltos a ônibus e uma falta de segurança tão evidente. É uma situação generalizada, que acontece em qualquer bairro e a qualquer hora", afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do RN, Nastagnan Batista.

Ele reclama da falta de um  trabalho preventivo e afirma que, apesar de existir, a ação da Polícia Militar, através da operação Transporte Seguro, não é suficiente. "Parece que tem mais bandido que polícia. O que percebemos é que a polícia faz uma barreira num determinado ponto e um quilômetro antes, o bandido assalta o ônibus".

O que corrobora para aumentar a incidência dos assaltos, pontuou Nastagnan, é a falta de investigação por parte da Polícia Civil. "Além de demorar de duas a três horas para fazer o boletim de ocorrência, a polícia não se empenha em investigar. Simplesmente arquivam o caso, e acabamos sem ter uma resposta da polícia".

Os motoristas e cobradores enviaram ofício para a Secretaria Estadual de Segurança reivindicando a criação de uma delegacia especializada para investigar os assaltos.

O pânico e estresse, segundo o presidente do Sintro-RN, tem tomado conta da categoria. Ele disse que outra preocupação é que algumas empresas terminam efetuado o desconto do valor levado em assalto do salário do operador.

SINDICATOS

A paralisação, que foi criticada por muitos usuários do transporte coletivo, que tiveram sua viagem interrompida, foi apoiada por sindicalistas e alguns parlamentares. Respondendo a críticas de usuários, Alberto Moura, do Sindágua, disse que transtorno maior é entrar num ônibus e se deparar com um marginal. "Em um minuto, você pode ter sua vida ceifada".

"Estamos nos unindo em repúdio à insegurança. Está na hora de barrar essa onda de insegurança porque é uma situação inaceitável. Vamos parar quantas vezes forem necessárias, e se preciso levaremos os ônibus para frente da Governadoria", afirmou o representante do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do RN, Moacir Soares.

A presidente do Sindicato das Costureiras e Trabalhadores na Indústria da Confecção, Maria dos Navegantes, considerou a onda de assaltos "como consequência de irresponsabilidade na gestão da segurança pública".  

PLANO ESTADUAL

O vereador George Câmara (PcdoB) cobrou a elaboração do Plano Estadual de Segurança nos Transportes Públicos. Ele anunciou para a próxima sexta-feira, 27, uma reunião extraordinária do Comitê de Segurança nos Transportes Públicos.

Criado pelo gabinete do vereador, que é coordenador do Parlamento Comum da Região Metropolitana de Natal, o Comitê tem representação do Sintro-RN, do Sindicato dos Transportes Opcionais, do Sindicato dos Taxistas e da Polícia Militar.

Dados do Seturn apontam as empresas de transporte coletivo que mais foram vítimas de assalto nos primeiros 23 dias do ano. Segundo o relatório, a Guanabara foi a companhia mais afetada pela ação dos bandidos, tendo 10 de seus ônibus alvos de criminosos em 2012. Em seguida, aparecem as empresas Conceição, com 8 ônibus assaltados; Reunidas, com cinco; Santa Maria e Cidade do Natal, com dois; e Transflor, com um.

Paralisação do serviço de transporte divide opiniões

A forma escolhida pelo servidores para protestar pela insegurança dividiu a opinião da população durante a manhã de ontem. A paralisação total dos serviços durante duas horas irritou alguns passageiros, enquanto outros compreenderam a motivação. Na longa fila de veículos formada na avenida Bernado Vieira, a equipe de reportagem conversou com a comerciante Marta Edilene. Ela aguardava o retorno do funcionamento da linha 04 para ter condições de chegar em casa. "Acho justo a paralisação. Estão cobrando para que algo de errado não volte a acontecer. Estou aguardando o retorno da linha para poder chegar em casa", disse.

A passageira contou que já foi assaltada durante uma viagem que realizava no serviço público de transporte. "Isso ocorreu no ano passado, quando dois pivetes entraram no ônibus e saíram tomando as bolsas de todo mundo. Fui na delegacia registrar o boletim de ocorrência, mas até agora não tenho notícia nenhuma dos meus pertences", afirmou.

Quem também se mostrou a favor do protesto foi a servidora pública Vilma Leão. "É uma vergonha haver essa quantidade de assalto e a polícia não se mexer. Precisa aumentar o contingente e fazer com que também haja investigação", contou Leão, que também aguardava o retorno do serviço na avenida Bernardo Vieira.

A opinião favorável não foi unanimidade. Alguns passageiros da linha 73, da empresa Reunidas, chegaram a quebrar vidros de janelas e portas quando foram informados da paralisação. De acordo com relato de funcionários, eles não gostaram de saber que teriam que interromper a viagem e chegaram a ameaçar o cobrador e o motorista. O espelho do corredor do corredor do veículo também foi quebrado.

DELEGADO ESPECIAL

O delegado geral da Polícia Civil, Fábio Rogério Silva, disse em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, terça-feira passada, que um levantamento mais detalhado está sendo feito para mapear as áreas e horários de ocorrência dos assaltos a ônibus em Natal, "a fim de identificar as pessoas que estão cometendo esse crime". 

O delegado geral adiantou que o delegado especializado de Furtos e Roubos, Atanásio Gomes, deverá ser nomeado, em caráter especial, para investigar a onda de assaltos em transportes coletivos. Silva esclareceu que a Polícia Civil "não tem condição de colocar um agente de polícia em cada ônibus", mas será aberta uma investigação para saber quais as linhas que são o principal alvo dos meliantes, assim como "traçar um perfil desses indivíduos".

Segundo Fábio Rogério, a Polícia Civil também vem atuando para coibir outros crimes nesse período de veraneio, como ocorreu com a prisão de uma quadrilha que andava assaltando casas de praia na Região Metropolitana de Natal: "São muitos bandidos e não tem como desarticular tudo de uma vez só"

Fonte: www.tribunadonorte.com.br

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